domingo, fevereiro 08, 2009

Capítulo 35: da fuga

Da Fuga

Como não sou tão independente como Carrie rica, estava eu saindo de um almoço de família com meus pais e encontrei uma colega de escola/vizinha e sua mãe.
A moça desceu antes com a sobrinha e a mãe ficou na lotação e ia descer no mesmo ponto que eu e meus pais.
Daí a senhora sai com a seguinte:

- E aí, Carrie? casou? (todos na lotação me olhando)
- Não.
- Ai, você e a "Lilly" não tem jeito... Vai ficar solteira?
- Vai ficar pra tia (meu pai se mete na conversa e fala isso de mim).
A mulher olha pra ele, afinal a filha dela já é tia.
- Acho que sim! (eu com cara de que não estou nem um pouco preocupada e tentando mostrar isso pros "bocas abertas" que ficam me olhando, faço cara de superior).
- Ai, a Lilly só fica enrolando! Comprou um apartamento e diz que vai morar sozinha!
Chega o ponto para descermos.
- Antes só, do que mal acompanhada (digo eu antes de descer, com um sorriso superior nos lábios).

O antes só não é só para um cara que a "Lilly" (como a batizei) possa encontrar e fazê-la de boba, mas pra própria mãe dela: uma mulher
extremamente dura com as filhas.

Lembro quando estávamos na oitava série (eu e Lilly), tínhamos um trabalho em dupla pra fazer e fizemos na casa dela, num sábado. Não lembro ao certo que tipo de trabalho era, acho que era de Língua Portuguesa. Sei que fizemos e pedi pra ela mostrar pra mãe dela (a mãe é professora de Geografia e História). Estávamos na cozinha fazendo e lembro claramente, mesmo com a porta fechada, de ouvir a mãe dela, da sala, falar "a Carrie não é a inteligente? ela que tem que saber! eu não vou ajudar vocês em nada!"
Lilly veio pra cozinha triste, eu fingi que não ouvi tudo aquilo. E percebi o quanto Lilly sofria com aquela mãe, entendia porque ela não dava a mínima nas aulas e muitas vezes ficava lá, parada... olhando pra classe sem fazer absolutamente nada...
Lembro de quando ela me contava (nessa época) que pegava o vidro de dipirona e tomava várias gotas pra dormir. A dipirona abaixa a pressão e você acaba dormindo. Ela tomava pra dormir e não ver o que acontecia ao redor dela, pra não sofrer.
Ela me contava que toda vez que o padrasto brigava com a mãe, a mãe ia correndo acender velas, fazer promessas pro marido voltar - daí se entende o desespero da mulher pela filha ser solteira.

Por isso acho que seria muito bom para Lilly ir morar sozinha, a mãe nunca foi uma boa companhia e agora com essa cobrança, pior ainda.
Antes disso, no almoço em família, uma senhora amiga, solteira, que estava no almoço falou que quando encontra algum homem interessante nunca diz que mora sozinha e tem um apartamento, cansou de ver as amigas falarem e o cara se "encostar". Por isso prefere estar sozinha do que sustentar preguiçoso como as demais da idade dela.
Depois dizem que as mulheres é que são interesseiras! Os homens também entraram nessa!
E para Lilly arrumar um cara para morar com ela, para agradar a mãe e ter mais um "encosto" na vida, não seria nada bom. Ainda mais só pra mostrar pros outros "estou acompanhada", mas isso é realmente companhia?
Não sei se hoje ela também toma dipirona pra dormir ou algo mais forte, quem sabe? Mas estar só, seria um ótimo acompanhamento pra ela.