sexta-feira, junho 18, 2010

A Ficada

Ficar começou a ter esse nome, que eu me lembre, nos anos 90.
Quando eu era uma adolescente.
Era uma coisa nova, ainda não entendíamos muito bem como isso funcionava, fomos os primeiros cobaias dessa nova "experiência afetiva".
Claro que eu imagino que passados quase 20 anos as novas gerações estejam mais "escaldadas" quanto ao "ficar e só ficar, nada mais que ficar". Que emperrava bem o pessoal da minha geração, fã de Nirvana com cabelos cortados à la Anthony Kiedes e camisetas de flanela.
Os anos passaram e fomos entendendo direito como era esse negócio de ficar e aprendendo a lidar com esse ter e não ter alguém, ou ter alguém com você por alguns momentos...

Mas não é muito diferente do que é um relacionamento mais, digamos, sério, é?
Afinal, você também passa alguns momentos com alguém...
Dizem que a diferença é amar, estar apaixonado um pelo outro.

Vendo os adolescentes de hoje tão descolados na arte da ficada fiquei pensando, para eles parece mais simples, ficou e acabou. Talvez não seja, só dê essa impressão.
Mas observando bem, comecei a pensar em carência afetiva, algo como querer matar uma carência por alguns minutos.
Quantas vezes não temos carinho de ninguém e naquele momento temos um abraço gostoso, quente e proveitoso?
Um se sentir bem sem compromisso, como se fosse um alívio para uma pressão, um estress, uma dor no peito, um vazio...
Acho muito válida a experiência, é quase como aprender a se sentir bem, se deleitar com o outro, mas sem precisar ter cobranças futuras.
Quase um amor livre? Pode ser...

Já tive uma época em que achava que não dava pra ficar só por ficar, tinha que estar realmente interessada na pessoa, mesmo que não fosse isso que o outro pensava... e sofria.

Um dia, desencantada com um final de namoro que me deprimiu, um rapaz no trem, sentado no banco que fica de lado e eu na janelinha, percebi, pelo reflexo do vidro, não tirava os olhos de mim.
No começo achei engraçado, um garoto... será que estava mesmo olhando pra mim ou era só minha imaginação?
E realmente ele continou a me olhar até que puxou conversa. Por ele, teria me beijado ali na frente de todo mundo, na hora, eu não aceitei, claro, seria modernidade demais pra mim...
Queria saber minha idade, eu perguntei se importava, eu já com 31 ou 32, ele disse que não e que ele tinha 21 ou 22, não lembro.
Ele desceu na minha estação passou a catraca e ficou comigo, ali na plataforma de espera dos ônibus, perdeu o outro trem que ele teria que pegar.
Adorou meu beijo, adorou meu jeito. E eu como estava meio com a estima baixa me senti feliz, foi como acordar para a vida novamente.
Ele pediu meu telefone, marquei na mão dele, mas sabia que ele não me ligaria.
E não me importei, valeu por aquele momento de troca de carinho e por me sentir uma mulher desejada de novo.